quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

António Pedro Ribeiro é uma longa história de actos revolucionários. Poeta e fundador do Partido Surrealista Situacionista Libertário, no Porto, acredita numa nova “ ordem “ mundial, no homem que explora as suas capacidades máximas, o homem deus. Assume se como anti capitalista e tem sempre uma palavra anti a dizer quanto a uma sociedade moralista e moralizador. Imaginação ao poder!! Já !
1. Quais as linhas gerais do Partido Surrealista Situacionista Libertário? O Partido Surrealista Situacionista Libertário (PSSL) opõe-se à vidinha do rebanho, previsível, rotineira, sem interesse de todos os dias. O PSSL opõe-se à não-vida do mercado, da economia, do dinheiro, do lucro, do governo, do défice, das décimas, das percentagens. O PSSL recusa que o homem se reduza à condção de número, de mercadoria, de objecto de compra e venda, o PSSL abomina a troca mercantil "que emporcalha as relações humanas". O PSSL quer silenciar o discurso assexuado dos economistas. O PSSL acredita no amor, na liberdade e na poesia como forças inaugurais de um mundo onde o homem seja criador, deus, poeta. O PSSL acredita na vida autêntica, plena, divina tornada banquete permanente, onde sejamos profetas e afirmadores da vida. O PSSL quer acrescentar caos ao caos actual de forma a atingir a revolução. O PSSL entende que a culpa da crise do capitalismo é do próprio capitalismo e que, portanto, é preciso derrubá-lo mas sem as tácticas eleitoralistas dos partidos e organizações tradicionais que apenas contribuem para o reformar. O PSSL não acredita em transições pacíficas para o socialismo nem para o anarquismo por isso defende a revolta permanente.

2. O apedro é exemplo desse inconformismo... tem uma longa história de actos revolucionários . Como foi quando foi a ocupação do Feira Nova de Braga? A história da ocupação do Feira Nova de Braga aconteceu em Setembro de 1990. Eu, na altura, colaborava com um jornal chamado "Minho" que teve uns problemas com o hipermercado Feira Nova e então o director pediu-me para escrever qualquer coisa contra o hipermercado. Em vez disso saí de casa com uma faca de plástico no bolso e, através do jornal, comecei a distribuir panletos anti-consumistas à porta do hipermercado. Entretanto, as rádios ou os jornais locais anunciaram que o Che Guevara tinha mandado fechar o Feira Nova. Havia pessoas a fugir de mim na rua e os velhotes faziam-me continência. Na altura, eu era contra o consumismo e contra o monopólio dos hipermercados. Outra história interessante aconteceu em 2003 quando fui acusado de deitar abaixo a estátua do major Mota na Póvoa de Varzim. O major Mota tinha sido presidente da Cãmara no tempo da ditadura e eu comecei a distribuir panfletos a dizer que a estátua era um insulto ao 25 de Abril. Meses depois a estátua foi derrubada e eu e a Frente Guevarista Libertária fomos acusados de a deitar abaixo. Eu tinha escrito um mail a dizer que a estátua ia cair e dois dias depois caiu mesmo. Nunca se soube quem foi mas eu fui interrogado pela Judiciária.3. Dás a entender que não vivemos numa democracia efectiva... a "máquina-sistema" não te parece ser muito pesada ?

Pela tua lógica, o derrube das réstias do fascismo, os países bascos já seriam independendes à muito tempo ... foram invadidos no tempo de franco... O padre Mário de Oliveira disse me uma vez que a revolução de abril nao tinha chegado ao seio da igreja católica onde predominavam réstias de fascismo ... "um homem máquina acorrentado?"
Vivemos na democracia da vidinha. Na democracia da compra e venda. O deus-dinheiro substituiu o Deus de Nietzsche. É um deus que afasta a vida, que converte tudo em mercadoria. É um deus que tem os seus prfetas que pregam estatísticas, percentagens, défices, orçamentos. Tudo isso é morte, é vidinha, não é a verdadeira vida. O fascismo está em todo o lado, não é só no País Basco (aí talvez seja mais evidente). Como dizia Nietzsche, tem de nascer um novo homem, sem preconceitos, livre, capaz de substituir o sub-homem da sub-vida, da vidinha. Há que derrotar todos os servilismos, todo o espírito do rebanho. Para isso é necessária uma revolução global, espiritual, não apenas política ou económica.

4. Imagina, os Estados Unidos sao o primeiro país a declarar se defensores dos direitos do homem e ainda perseguem comunistas. Onde está a liberdade de expressão? O Estado serve para alimentar os tais "carneiros" ... achas possível uma anarquia num futuro brilhante para a humanidade? Os Estados Unidos não são exemplos para ninguém. Nem acredito que Obama melhore as coisas por aí além. Quem manda nos Estados Unidos são os grandes grupos económicos que só estão interessados em lucros astronómicos, os generais e a indústria de guerra. São interesses que nada têm a ver com direitos humanos.Eu tenho que acreditar no anarquismo. Se ele é possível em pequena escala também poderá ser possível ao nível da humanidade. é precisa a tal revolução dionisíaca, é preciso acreditar no amor, na liberdade, na revolução e também no caos. Isto não é acreditar no amor de forma ingénua como as religiões ou os "hippies". É dar caos ao caos. Ir para a rua partir os bancos e a bolsa que nos oprimem, partir coisas como há pouco tempo se fez na Grécia. A revolta é necessária para chegar onde queremos.

5. Defendes uma nova ordem ... revolucionária. não achas que vivemos em pseudo democracias? Nao achas que se deturpou Abril de 74?
Não sei se é uma ordem. Acho que não gosto muito da palavra. Acredito na revolução mas não tenho de apresentar sistemas alternativos. Vivemos em democracias de rebanho. O 25 de Abril ficou por se completar. Houve aquela esperança em 1974/75 mas depois veio a normalização.

Já alguma vez te candidataste à liderança de uma instituição?
Já me candidatei à presidência da Junta de Vila do Conde e à Junta da Póvoa de Varzim pelo Bloco de Esquerda, onde fiquei a três votos de ser eleito mas, se calhar, ainda bem que não fui. Já fui candidato a deputado pelo PSR por Braga e várias vezes candidato à presidência da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras do Porto, sempre em listas minoritárias. Ganha-se uma certa notoriedade, podem-se discutir umas ideias mas os partidos controlam muito, especialmente o Bloco de Esquerda. No PSR era mais livre e espontâneo.

beijo
C.

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